Entrevista com Arthur Zobaran Pugliese, do Mestres da Obra

 O bate-papo desta semana é com o empreendedor Arthur Zobaran Pugliese, um dos idealizadores e hoje Diretor Institucional do Mestres da Obra. Arquiteto, com especialização em gestão de projetos sociais, é ele quem faz a interface com os parceiros dos projetos e leva a proposta de um novo olhar social nos debates sobre os operários na esfera pública.

O Mestres da Obra é uma OSCIP, que vem ganhando força em todo o país ao contribuir para o desenvolvimento dos operários da construção, nas áreas de educação, cultura e saúde. Os projetos apresentam resultados expressivos, com premiações em diversas áreas. Mas, o fundamental são as centenas de trabalhadores capacitados e que hoje possuem uma nova visão de mundo.


Entrevista:

Edvaldo Corrêa – Como nasceu o projeto?
Arthur Zobaran Pugliese - A ideia inicial surgiu quando eu atuava em um canteiro-de-obras de uma pequena construtora do ABC paulista. Juntamente com o amigo Daniel Machado Cywinski, educador ambiental, inserimos alguns conceitos de arte e design utilizando resíduos de construção no canteiro e, que em pouco tempo surtiram efeito com um pequeno grupo de operários. Depois deste processo de aprendizado evoluímos para um projeto mais denso, que acabou dando origem ao Mestres da Obra.


Edvaldo Corrêa – Em quais regiões vocês atuam e quais metodologias são adotadas nos canteiros para conseguir esta mobilização dos trabalhadores?
Arthur Zobaran Pugliese – Hoje atendemos os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, entre outros, dependendo da capilaridade dos parceiros. Quanto às formas de atuação, são diversas, como os ateliês de artes plásticas, oficinas de música, fotografia e cinema, por exemplo. Mas, dependendo da empresa e da região, é possível readequar a abordagem para conseguirmos melhores resultados. Um ponto fundamental é a importância de termos um engenheiro e um mestre de obras da construtora que estejam abertos a este processo de aprendizagem por parte dos trabalhadores. Tudo deve ser alinhado com eles previamente. Isto facilita e muito o trabalho.

Edvaldo Corrêa – Como é a receptividade de empresários e trabalhadores para com o projeto?

Arthur Zobaran Pugliese – Em geral existe um pouco de resistência nos contatos iniciais com as empresas, que estão muito preocupadas com metas quantitativas e com o marketing. O lado humano ainda não é uma prioridade em várias organizações. Mas, aquelas empresas que adotam uma postura de desenvolvimento humano de suas equipes e iniciam as atividades conosco acabam dando continuidade ao projeto. No que diz respeito aos trabalhadores, o resultado é fantástico. Um bom exemplo com relação ao tema artes é que temos um acervo com cerca de 400 trabalhos, devidamente preservados.

Edvaldo Corrêa – Um projeto desta envergadura só é viabilizado com parceiros. Você pode falar sobre eles.

Arthur Zobaran Pugliese – Sim. Por exemplo, a Editora Moderna é nosso parceiro educacional. Existem diversas empresas da cadeia produtiva da construção que são importantes para que possamos continuar a atuação. Empresas como GERDAU, DURATEX e DECA são patrocionadoras, e temos as construtoras e incorporadoras (parceiros culturais), como Construcap, Tecnisa, Toledo Ferrari, Setin, Emoções, e várias outras. Muitas destas empresas utilizam a Lei Rouanet (Lei 8313/91) e o PROAC (Programa de Ação Cultural) de São Paulo.

Edvaldo Corrêa – Quais os novos projetos do Mestres da Obra para este ano? E aproveito para agradecer pela sua disponibilidade em conversar e desejar sorte na continuidade do projeto.

Arthur Zobaran Pugliese – Vamos continuar no mesmo ritmo de crescimento dos anos anteriores, mas temos duas metas importantes: queremos publicar dois livros (um de poesias feito por operários e outro com as principais realizações do Mestres da Obra). Obrigado. Foi um prazer conversamos.

A OSCIP possui profissionais e corpo executivo extremamente qualificado. Mas, uma proposta com esta magnitude somente poderia nascer e ser mantida por pessoas comprometidas, entusiasmadas e visionárias. Por isto, o Mestres da Obra é um sucesso. Compartilho esta iniciativa com o desejo de que outros empresários sejam sensibilizados a investirem no desenvolvimento humano dos seus operários. E que novos espaços sejam criados nos canteiros-de-obras, para um aprendizado pleno daqueles que constróem o Brasil.

Para saber mais sobre o Mestres da Obra acesse www.mestresdaobra.org.br  ou a fã page do Facebook.