Da escolha do terreno à gestão do canteiro, a IA apoia a construtora na leitura de cenários, otimização de processos e no avanço de uma construção civil mais inteligente, precisa e ambientalmente responsável
O uso da Inteligência Artificial (IA) deu um salto nas empresas de todo o mundo: segundo a pesquisa The State of AI in Early 2024, da McKinsey, a adoção da tecnologia passou de 55% para 72% em apenas um ano — com destaque para a IA generativa, que dobrou de presença nas estratégias corporativas, saltando de 33% para 65%. No setor da construção civil, esse avanço começa a redesenhar o dia a dia dos canteiros, dos escritórios de projeto e do relacionamento com o cliente, como ocorre na Emccamp Residencial, empresa que possui mais de 48 anos de atuação no mercado imobiliário.
As inovações adotadas pela construtora foram tema do episódio 2 do podcast Morar em Pauta, promovido pela empresa e que teve a participação dos executivos Cássio Lapertosa, diretor de Tecnologia e Segurança da Informação da Emccamp; Felipe Boaventura, vice-presidente do Sinduscon-MG e diretor Jurídico da Emccamp; e Gustavo Macena, presidente do P7 Criativo e superintendente do Instituto Euvaldo Lodi (IEL).
Segundo Cássio Lapertosa, a IA não é mais uma promessa de futuro — ela já é uma realidade em todos os setores da empresa. "Na Emccamp, a IA já está presente desde a venda até o canteiro de obras. Hoje, todas as áreas têm um projeto de IA rodando — inclusive construção, compras, TI (Tecnologia da Informação) e atendimento", afirma.
Essa integração permite ganhos reais em produtividade, qualidade e segurança, especialmente nos ambientes mais desafiadores, como o canteiro de obras.
Monitoramento no canteiro com drones e ferramentas inteligentes
Cássio revela que uma das frentes mais promissoras da IA aplicada à construção está no monitoramento e na automação do canteiro. "Já estamos usando drones com IA para vistoriar obras, identificar falhas e garantir o uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) por parte dos colaboradores. Também estamos testando ferramentas sem fio inteligentes, que avisam se foram removidas do canteiro ou estão inativas. Isso dá mais controle ao gestor e reduz desperdícios."
Essas ferramentas são conectadas a sistemas de rastreamento que monitoram em tempo real o uso e a localização de cada item. Caso fiquem paradas por muito tempo ou sejam deslocadas para fora das áreas autorizadas, alertas são enviados automaticamente para a equipe de gestão da obra. Com isso, é possível identificar gargalos de produtividade, prevenir perdas e até reduzir furtos de equipamentos — um dos problemas mais recorrentes em grandes obras. "A ferramenta, literalmente, fala com a gente. Se for desligada ou usada de forma errada, ela avisa. Isso traz uma camada de inteligência operacional que antes dependia apenas da observação humana", explica Cássio.
Além do canteiro, a IA tem papel fundamental na tomada de decisão e no suporte interno. Um dos grandes diferenciais da Emccamp é o uso de um modelo preditivo que antecipa a viabilidade de novos lançamentos com base em uma análise inteligente do entorno. A tecnologia cruza dados como renda média da população, perfil socioeconômico, taxa de crescimento da região, presença de concorrentes e histórico de valorização imobiliária.
"Antes de lançar um empreendimento, cruzamos informações como renda local, concorrência e perfil urbano. A IA aponta se há demanda real", explica Cássio.
Com esse recurso, a empresa consegue reduzir riscos, otimizar investimentos e direcionar os projetos para áreas com maior potencial de aceitação comercial. Trata-se de uma ferramenta estratégica que transforma decisões tradicionalmente baseadas em intuição em movimentos fundamentados por dados concretos.
Além disso, a Emccamp criou bots internos que auxiliam os colaboradores com respostas rápidas e técnicas no dia a dia das obras. "Se alguém perguntar 'quanto tempo demora para o cimento secar?', o bot responde na hora. Isso otimiza o trabalho de quem está na obra", completa Cássio.
"A IA deve resolver dores reais das empresas"
Para Felipe Boaventura, a adoção de IA precisa ser estratégica — não basta seguir tendências, é necessário alinhar a tecnologia com os principais desafios do negócio. "Muitas empresas querem aplicar IA em tudo. Mas o ideal é identificar as maiores dores — vendas, suprimentos, obras — e investir em soluções específicas. A inovação precisa gerar retorno real", defende.
Felipe também destaca que o maior risco não está na tecnologia, mas na falta de capacitação. "A tecnologia por si não desemprega. O que desemprega é a falta de preparo. Por isso, investir em formação e mudança cultural é essencial."
BIM + IA: a dupla que transforma o planejamento e a experiência do cliente
Uma das tecnologias que potencializam a IA é o BIM (Building Information Modeling). Com ele, é possível transformar projetos em dados, melhorando o planejamento, o orçamento e até o registro da incorporação imobiliária. "O BIM é a base da IA na construção. Com ele, você cola o projeto à realidade da obra por meio de filmagens e modelagens. Isso permite acompanhar o avanço da obra com precisão", explica Cássio.
Além disso, a realidade virtual combinada ao BIM já encanta os clientes. "Você pode mostrar o apartamento decorado e ainda personalizar cores, pisos, acabamentos. O cliente vê tudo em tempo real e ainda pode saber onde passam os canos na parede, evitando surpresas", conta.
IA e sustentabilidade
A inteligência artificial também tem papel importante na construção mais sustentável. Ao otimizar rotas, prever desperdícios e reduzir erros, a tecnologia contribui para uma obra mais limpa e consciente. Um exemplo prático vem de obras da Emccamp em São Paulo, onde a IA está sendo usada para gerenciar o bota-fora — termo utilizado para se referir ao descarte de entulhos e resíduos gerados durante a construção. "Estamos usando a tecnologia para direcionar o bota-fora das obras. Sabemos exatamente onde está a necessidade e evitamos transporte desnecessário. Isso reduz custo e emissão de CO₂", explica Cássio.
Na prática, a tecnologia cruza dados geográficos, logísticos e operacionais para indicar os pontos de descarte mais próximos e mais eficientes, incluindo locais que estão demandando material de preenchimento. Assim, em vez de simplesmente despejar os resíduos em um ponto fixo, a IA sugere destinos úteis, que podem reaproveitar os resíduos, otimizando a logística e reduzindo a circulação de caminhões. O resultado é uma operação mais econômica, ambientalmente responsável e alinhada às práticas da construção verde.
Os desafios da IA
Apesar dos avanços, Felipe Boaventura reforça que ainda há obstáculos — e eles não estão na tecnologia em si, mas no acesso, na estrutura de dados e na cultura empresarial. "O Brasil coleta muitos dados, mas trata mal. Falta estrutura, integração e visão estratégica para transformar isso em combustível para a IA", alerta Felipe. Ele enfatiza que muitas empresas crescem sem uma TI sólida. Sem dados organizados, não adianta querer usar IA. É preciso estrutura, segurança e políticas claras de uso."
Felipe acredita que, nos próximos cinco anos, a IA será parte indissociável do setor. Mas a expectativa vai além da eficiência: o foco será o bem-estar. "A construção 5.0 vai priorizar o bem-estar do cliente, do trabalhador e do planeta. A IA vai permitir isso ao eliminar tarefas repetitivas e liberar tempo para atividades mais humanas e criativas", diz Felipe.
Acompanhe o episódio completo com as participações de Cássio Lapertosa, Felipe Boaventura e Gustavo Macena:
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