Inicio este post hoje com uma visão um pouco mais crítica sobre o setor da construção civil no Brasil. Minha experiência com a implantação da série de normas ISO 9000 e PBQP-H em construtoras e o acompanhamento do processo de gestão de inúmeras empresas, deixa-me a vontade para apresentar um breve quadro e delinear algumas questões sobre a mão-de-obra e suas deficiências.
Há a importância de que os operários da construção civil não estejam munidos somente de conhecimentos técnicos e tecnológicos, mas de fortes conceitos éticos, morais, de responsabilidade pública, de cidadania e de meio ambiente. A mudança do tradicional repasse de conhecimentos compartimentados para uma visão pedagógica democrática, com relações interdisciplinares, creio que possa ser uma das soluções para a construção de um profissional diferenciado no mercado de trabalho.
Elenco a seguir algumas características da indústria da construção civil, com ênfase para o subsetor edificações, que facilitam o entendimento:
- em geral falta visão estratégica das empresas (isto é, um posicionamento claro de quais são os clientes e quais serviços executa);
- uma estrutura organizacional rígida (fluxo de informações na vertical), com grande influência nas decisões do "dono" da empresa;
- normalmente o cliente não define o produto;
- inexistência de um controle efetivo de manutenção de máquinas e equipamentos;
- moderado atraso tecnológico e gerencial;
- falta de qualificação dos colaboradores que atuam diretamente no processo construtivo (com falta de mão de obra no mercado este problema aumenta);
- o ambiente de trabalho (canteiro de obra) ainda não é visto como fundamental para a qualidade do processo produtivo, com raras exceções;
- uso reduzido de registros;
- uma grande variedade de agentes intervenientes, tais como os usuários, planejadores, projetistas, fabricantes, executores, entre outros;
- falta de qualidade nos insumos empregados, principalmente os materiais básicos. Há esforços e vemos evolução, mas o caminho ainda é longo;
- uso reduzido da tecnologia da informação e comunicação;
- uso escasso de normas técnicas;
- indústria ainda muito tradicional e conservadora, com grande inércia às alterações. As empresas líderes acabam sendo altamente inovadores em função deste item;
- uma produção sujeita às intempéries. Existem empresas que produzem edificações na fábrica como a BS CONSTRUTORA, mas é uma gota no oceano;
- as responsabilidades são dispersas e pouco definidas;
- baixíssimo grau de decisão dos colaboradores; e
- há uma grande necessidade de ajustes devido a improvisos por falhas nos projetos.
Neste quadro os conceitos de produção que focam a qualidade e produtividade coexistem com a velha concepção de tarefas predeterminadas, apesar de o novo paradigma requerer do trabalhador a apropriação de saberes mais genéricos e específicos ao mesmo tempo. Os processos de aprendizagem nas empresas direcionam para a competitividade, mas há uma contradição, pois, colaboradores que não pensam também não propõem melhorias nas empresas e na sociedade.
Observamos que há um processo lento de restruturação tecnológica e organizacional que vem ocorrendo em todos os tipos de empresas, mudando o perfil do trabalho e do trabalhador. Penso que a função principal da educação profissional deve ser sempre a de formar o ser humano em todas as suas capacidades, a partir de um trabalho com os saberes que circulam na sociedade. O desenvolvimento global do ser humano está diretamente relacionado com a qualidade de vida que ele usufrui em seu cotidiano: direitos essenciais que somados a cultura, arte, diversão e convivência humana, trarão mais e melhores resultados para todos.
Por isto, iniciativas como a que coloquei em meu último post são extremamente relevantes e importantes. Um grande abraço.
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