Cidades-sede devem usar a Copa de 2014 para resolver problemas sociais

Coordenador da Copa 2010 em Durban alerta o Brasil para as negociações com a Fifa e sugere que o país aproveite o Mundial para canalizar investimentos em benefício das cidades


O sul-africano Eric Apelgren, coordenador de Relações Governamentais de Durban na Copa 2010, afirmou durante palestra nesta quarta-feira (18), na CICI2011, que as cidades-sede do mundial no Brasil em 2014 devem traçar estratégias para negociar com a Fifa a realização de obras que resolvam problemas sociais, como combate ao desemprego e ao déficit habitacional.

Em sua palestra "Copa do Mundo: experiência de Durban (África do Sul)", ele lembrou que um evento de futebol não vai resolver todos os problemas das cidades, mas deixará um legado importante. "Um evento de futebol não vai resolver todos os problemas, mas com a Copa temos que conseguir emprego e residência para as pessoas. Em Durban, a Copa ajudou a resolver alguns desafios que tínhamos", contou.

Apelgren, no entanto, orientou que as cidades-sede devem negociar com cuidado o contrato assinado com a Fifa para que as obras beneficiem as cidades após o mundial. "Vereadores e prefeitos das cidades precisam verificar as obras como estradas, transporte e todas as melhorias incluídas no contrato com a Fifa para que fiquem como legado. Tivemos várias brigas com a Fifa, porque os investimentos não podem só servir à Fifa, mas servir a própria cidade", disse.

"Governo não precisa ser dono de estádio"
Para uma platéia formada sobretudo por gestores envolvidos diretamente com a Copa de 2014, Apelgren contou que a maioria dos estádios se transformou em verdadeiros elefantes brancos depois da Copa da África do Sul. Para ele, construir estádio é um negócio arriscado e não é atribuição do governo. "O governo não precisa ser dono de estádio. É preciso realizar parceria público-privada porque os estádios são caros para construir e muito mais ainda para manter. Hoje travamos uma discussão sobre a necessidade de destruir alguns estádios, porque a cidade não pode continuar pagando por um estádio que não está trazendo dinheiro", alertou.

Em Durban, no entanto, o estádio é auto-sustentável porque foi erguido com característica de múltipla utilidade. "Optamos por construir um estádio múltiplo, que possibilitou nossa candidatura às Olimpíadas de 2020 e está sendo utilizado para outros esportes", afirmou.

Estrategicamente, Apelgren informou que foram desenvolvidos times de trabalho com profissionais responsáveis por estádio, transporte, segurança, tecnologia, turismo e acomodação, comunicação e marketing, bem como desenvolvimento econômico e negócios. "As regras da Fifa sobre marketing e como conduzir o negócio são bem duras e temos que nos assegurar que os pequenos e médios empresários se beneficiem da Copa", aconselhou.
Além disso, outra exigência para sediar o campeonato mundial refere-se à sustentabilidade, como embelezamento da cidade e dos parques, sistema reciclável do lixo, provisão de energia para os jogos e até saneamento.

Hotelaria e ingressos
Já na área hoteleira, Durban teve que garantir a capacidade de acomodação aos turistas. "Tínhamos 25 mil camas disponíveis e cada evento traria 40 mil visitantes. Com base nisso, incentivamos o investimento em novos hotéis", contou.

Apelgren, no entanto, criticou a Fifa quanto a reservas da rede hoteleira, que ficou sob a supervisão de uma empresa indicada pelo órgão e trouxe transtornos. "A organização forçou o bloqueio das reservas, que não se confirmaram e não se reverteram em dinheiro. Os empresários ficaram enraivecidos conosco", detalhou. Segundo ele, algumas vezes a Fifa vai informar que estão vindo a Curitiba 20 mil visitantes e isso pode não ocorrer na prática.

Outro ponto negativo da Copa da África do Sul foi a venda de ingressos, que impossibilitou que os próprios sul-africanos frequentassem os estádios. A Fifa disponibilizou muitos ingressos para venda online, mas não levou em conta que muitos africanos não tinham acesso à internet. "Foi desapontador para mim, porque no contexto africano muitos não tinham acesso para comprar o ingresso online e muitos não participaram da Copa", lamentou.

Depois da Copa, contou Apelgren, os problemas sociais persistem. Ele citou como exemplo o desemprego, cuja taxa tinha caído 30% durante os jogos e aumentou novamente pós-Copa. "Precisamos usar a mesma energia da Copa para enfrentar esse problema. Temos altos níveis de desemprego, que ainda é um desafio para nosso país, e muitas pessoas pobres ainda precisam de casas", afirmou. No entanto, ressaltou, a Copa abriu portas para novos eventos de âmbito mundial, como a realização da Conferência Mundial do Clima (COP 17), que será sediada em Durban de 28 de novembro a 9 de dezembro deste ano.

Fonte: Assessoria de Imprensa do SISTEMA FIEP