Construção Modular Mundial Tem Potencial de Crescimento para os Próximos Anos (e Por Aqui?)

O setor da construção civil mundial tem experimentado uma evolução lenta na produtividade e digitalização nos últimos anos. Nos canteiros-de-obras ainda se observa o uso frequente de tecnologias artesanais com um baixo uso de elementos pré-fabricados ou industrializados. E, ainda são poucos os atores que tem conseguido algum sucesso ao apresentarem alternativas disruptivas para enfrentar os inúmeros desafios que o setor possui, seja adotando um novo olhar para, por exemplo: modelos de negócios, antecipação de demandas com desenvolvedores e investidores, projetos integrados, mudança da percepção de qualidade dos clientes ou mesmo melhorar a cadeia de suprimentos e de logística, por exemplo. No olhar sistêmico também existentes inúmeros outros gargalos, que vão da logística, tributação a questões burocráticas, por exemplo.

Independente deste movimento, para o Banco Mundial, a previsão de crescimento demográfico aponta para valores bem expressivos até 2050, conforme podemos ver no gráfico abaixo. Ainda, de acordo com o Population Reference Bureau, China, Índia e outros países emergentes da Ásia-Pacífico tiveram uma população superior a 4,5 bilhões em 2019, o que deve se tornar um fator cada vez mais importante para o consumo global de construção nas próximas décadas. Para o Banco Mundial, os dois gigantes econômicos da região Ásia-Pacífico, China e Japão, foram a 2ª e 3ª maiores economias do mundo em 2019.
Fonte: Banco Mundial (elaboração própria)

Sistemas industrializados baseados em matérias-primas diversas, adotando componentes, painelização até os módulos 3D começaram a ser utilizados ainda em escala reduzida considerado o tamanho global da construção civil. Segundo o Modular Building Institute a quantidade de obras que utilizam modular nos EUA ainda é pequeno, na ordem de 4% do mercado total. Artigo da Terracotta Ventures apontava em 2020 que a penetração do sistema modular só tem destaque na Alemanha (10%), Japão (15%) e nos países da Península Escandinava (45%). Em termos de market share não existem dados disponíveis no Brasil.

Mas, a construção modular mundial vem ganhando corpo para atender nichos com segmentos de média e alta renda, além é claro, dos segmentos considerados maduros, como a indústria, hospitais, escolas e outros, principalmente pelos seguintes fatores: menores impactos ambientais, aumento da previsibilidade de custo e prazo, maior qualidade, escassez da mão-de-obra e aumento urgente dos níveis de produtividade. Este mercado tem potencial de chegar a 108,8 bilhões de dólares no planeta em 2025 (gráfico abaixo).


Existe um número interessante de empresas de modular pelo mundo que tem conseguido implantar suas visões de negócio. Markets & Markets (2020) aponta que em termos de receita e volume, o mercado de construção modular da Ásia-Pacífico é o que tende a ter a maior expansão nos próximos anos. Os fatores-chave nestas regiões são a pronta disponibilidade de matérias-primas e mão de obra, juntamente com tecnologias e inovações sofisticadas.

No Brasil, nos próximos anos ainda deveremos ter uma evolução do sistema de paredes de concreto, pois, ainda, não surgiu uma tecnologia que se provasse competitiva em custos para atender escala e repetição para o "social house". Somado a isto ainda há um pênalti que é o ciclo dos negócios e dos respectivos empreendimentos que ainda não tem como foco uma redução drástica do tempo da obra em virtude do modelo de "funding" existente e a necessidade do pró-soluto (pode chegar até a 30%). A tributação atual do setor também é inimiga da produtividade (ISS x ICMS).

Para aumentar esta complexidade temos um duplo gap de produtividade quando somos comparados a outros países e economias mais desenvolvidas. Esta baixa produtividade é um gargalo para a demanda crescente por habitações. Nosso déficit quantitativo é da ordem de 6,1 milhões de unidades, segundo a Fundação João Pinheiro


Esta ineficiência das últimas duas décadas acarreta perdas, que segundo estudos desenvolvidos na Escola Politécnica (USP) chegam no que se refere aos materiais a 8%. Quanto tratamos de perdas financeiras, incluindo os custos de retrabalhos, este número é da ordem de 30%.

 
Resíduos de Construção em Curitiba - Gazeta do Povo
Foto: Franklin de Freitas

Daqui deste lado temos verdadeiros desbravadores (empresas de construção modular) como Tecverde, Brasil ao Cubo, Alea, CMC, Quickhouse, Visia, TAEC e outras, vem buscando encontrar caminhos. Mas, será necessário envolvimento de toda a cadeia que pense nos sistemas, de forma integrada, com soluções robustas e híbridas. Estamos apenas no início, mas, precisamos colocar os dois pés no acelerador por aqui ou teremos mais alguns anos de poucos avanços ou até mesmo um retrocesso! Não é só uma questão de tecnologia!

Sobre o autor:
Edvaldo Corrêa é Graduado em Tecnologia da Construção Civil pela UTFPR, Licenciado em Educação Profissional pela UFPR, Pós-graduado em Gestão de Escolas Técnicas pela UFSC; Técnico em Gestão de Negócios Imobiliários pelo IBREP e Técnico em Edificações pela UTFPR. Atua no mercado desde 1990, tendo trabalhado em grandes empresas como SENAI, SEBRAE, IVAI, PINI, Grupo Noster, Pioneira da Costa e Tecverde, em cargos técnicos e executivos.

Em paralelo, profere, há anos, palestras sobre temas relacionados a indústria imobiliária em sindicatos, associações, conselhos regionais, empresas privadas, congressos, fóruns setoriais e universidades. Também escreve como convidado para revistas e portais como Imóvel Magazine, Invest USA 360, Destaque Imobiliário, Imóveis News e Instituto IBEI. Junto com Daniel Rosenthal é curador e organizador do Digital Real Estate Brazil.

Áreas de Atuação:
  • Incorporação Imobiliária;
  • Diagnóstico e Gestão Empresarial;
  • Impulsionamento Estratégico;
  • Comunicação e Vendas;
  • Empreendedorismo;
  • Conselho Familiar e Startups;
  • Estudos de Mercado; e
  • Cadeia Produtiva da Construção.
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