Apesar de alcançar 20% de economia no consumo, tratamento de águas cinzas só é feito em três empreendimentos residenciais de Curitiba, capital que lidera rankings de certificações verdes na construção civil
Os crescentes desafios da crise hídrica têm impulsionado a adoção de soluções inovadoras para a economia de água na construção civil brasileira. Sistemas de reúso de água da chuva, mecanismos de recirculação, além de metais sanitários e descargas com controle de vazão nas residências têm reduzido o desperdício e elevado a eficiência hídrica em empreendimentos residenciais de várias cidades.
Embora concentre 8% das reservas mundiais de recursos hídricos superficiais, o país enfrenta períodos de estiagem preocupantes até mesmo em estados com o clima predominantemente subtropical úmido, como o Paraná. Depois da estiagem de 2020 a 2022, que resultou em rodízio de água para moradores de Curitiba e Região Metropolitana por 649 dias, a nova crise hídrica na bacia do Rio Paraná preocupa, em função da seca na região Norte do estado e RMC somada à previsão de influência do fenômeno La Niña nos próximos meses, que usualmente leva à redução de chuvas no Sul do Brasil.
Apesar da emergência hídrica, o uso de água potável nas descargas, para a lavagem de carros e calçadas, além da rega dos jardins, ainda é comum nas residências brasileiras. Em Curitiba, capital que está no topo de rankings de certificação de sustentabilidade na construção civil, apenas três empreendimentos residenciais fazem o reúso de águas cinzas. Dois deles – New Town e New Urban – são da mesma incorporadora, a AGL, pioneira na adoção da solução capaz de reduzir em até 20% o consumo de água nos condomínios.
O tratamento de águas cinzas permite coletar a água utilizada em chuveiros e lavatórios, tratá-la em uma estação instalada no próprio edifício e utilizá-la nas descargas sanitárias. De acordo com o gerente de engenharia da AGL, Vinícius Hanser, o sistema exige investimento da construtora na infraestrutura, mas o resultado é compensador quanto à sustentabilidade. “É uma forma de usar duas vezes a mesma água, que demanda a instalação de mais tubulações e sistema de filtragem. Mas a economia é significativa. Os dados mais recentes do consumo no residencial New Urban, por exemplo, mostram que, em setembro, foram utilizados 663 m3 de água pelos moradores, sendo 535 m3 de água potável e 128 m3 de águas cinzas. Ou seja, a redução do consumo de água potável foi de mais de 19% apenas com essa solução”, informa.
A implantação da reciclagem de águas cinzas, segundo o engenheiro, precisa ser definida na concepção do empreendimento, o que limita a adesão à solução apenas aos edifícios novos. “Não é algo que se consiga implantar facilmente em edifícios já entregues, porque isso exigiria mudanças estruturais nas prumadas hidráulicas”, explica. O incentivo do Governo ao reúso de águas cinzas está previsto na Lei Federal 14.546/23, que alterou a Lei do Saneamento. Mas a norma carece de regulamentação.
No caso do aproveitamento das águas pluviais, uma lei municipal obriga a instalação dos sistemas de captação em novos empreendimentos de Curitiba desde 2007. Somado o uso da água da chuva ao reúso de águas cinzas e soluções como louças e metais sanitários inteligentes – com redutores de vazão e arejadores – a economia alcança até 60% do consumo residencial de água. “Quando falamos em eficiência hídrica, falamos também em escolhas técnicas que geram impacto. Cabe à construção civil especificar metais, louças e sistemas que reduzam consumo, e cabe à sociedade valorizar empreendimentos que tragam esse diferencial”, reforça Hanser.
Uso consciente da água: orientação aos moradores otimiza resultados
A eficiência hídrica também depende da conscientização dos moradores de condomínios verticais com sistemas de redução do consumo e desperdício. Nos edifícios entregues pela AGL, são distribuídos manuais do proprietário com orientações sobre como otimizar resultados a partir do uso correto dos sistemas e soluções implantados nos apartamentos e áreas comuns dos edifícios.
Nos banheiros e chuveiros, a incorporadora instala avisos, indicando cuidados básicos para o bom funcionamento do sistema de tratamento de águas cinzas. Entre os cuidados está o de nunca descartar resíduos de tintas e solventes nos ralos, pois isso compromete o funcionamento do sistema.
De acordo com o sócio-fundador e diretor da AGL, Luiz Antoniutti, a preocupação vai além de repassar instruções técnicas aos moradores. “O setor da construção civil precisa assumir protagonismo no enfrentamento da crise hídrica, assim como na redução de emissões e na eficiência energética dos novos empreendimentos. E a sustentabilidade, além de um diferencial em um mercado que valoriza cada vez mais as construções verdes, é um valor que precisa ser compartilhado entre construtora e clientes”, destaca.
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